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Três dias no Deserto

Uma das paisagens mais conhecidas e espectaculares da América do Sul é, provavelmente, o Salar de Uyuni. Era também um dos momentos pelos quais eu mais ansiava e acabou por ser um dos mais marcantes desta viagem. Foram três dias intensos, os quais vou detalhar neste post.

Dia 1

Na realidade, a viagem começou na noite da passada segunda feira, com a viagem de autocarro de La Paz para Uyuni. Supostamente, eu teria ido um dia antes mas, como encontrei um grupo de quatro raparigas brasileiras no meu hostel que iam começar o passeio na segunda, decidi prolongar a minha estadia em La Paz por um dia e garantir uma companhia animada durante a expedição no deserto.

A viagem de nove horas de autocarro correu lindamente, os assentos do autocarro reclinavam bastante e tínhamos mantas - íamos confortáveis e quentinhas (empresa TransOmar, para os interessados, recomendo). Mas a alguns quilómetros de Uyuni, acordámos sobressaltadas com o motorista a mandar-nos sair do autocarro: tínhamos de caminhar meia hora até à cidade pois, devido a uma greve, a estrada estava bloqueada. Então, que outra opção havia? Nenhuma. Lá fomos, e eu com a minha mochila de 20kg nas costas, que já mais parece um frigorífico portátil.

Chegadas a Uyuni, pelas 6h30, começámos a ir de agência em agência turística para pesquisar um bom tour a um bom preço. As ofertas variavam entre os 80€ e os 180€ por pessoa, acabámos por escolher um de 100€ para não arriscar demasiado. Todos os tours incluíam refeições para os três dias, alojamento e transporte.

Às 11h partimos, no jipe carregado com o motorista, quatro brasileiras, dois alemães, comida, bagagens e eu. A primeira paragem foi mesmo perto da cidade de Uyuni, “cementério de trenes”.

A greve e o bloqueio de estradas continuava e, por isso, tivemos que procurar caminhos alternativos. No primeiro deparámo-nos com um grupo de rapazes com pedras na mão e um jipe a bloquear a estrada: não nos deixaram passar. Na segunda tentativa, os jipes todos ficaram atolados na areia - passámos uma hora parados à espera que os homens tentassem desatolar os carros e, mesmo assim, dois ainda estavam presos quando nos fomos embora. À terceira, connosco já quase a desesperar, lá conseguimos tomar o caminho devido e só parámos ao almoço.

Pouco depois, lá chegámos ao Salar! São 12000Km2 de deserto de sal, um chão super plano, branco a perder de vista.

Entretanto, o sol já se estava a por e as temperaturas a baixar, na última paragem nem saí do carro, tal era o frio. Os efeitos da altitude, das poucas horas de sono e das horas ao sol, deixaram-me cheia de náuseas e dor de cabeça nas últimas horas do dia. Cheguei ao abrigo de sal (sim, as paredes e o chão eram de sal), estava exausta, só queria comer e dormir...quando percebi que tinha perdido o telemóvel algures entre o carro e o quarto. Procurei por todas as partes, sem sucesso, até que desisti e fui descansar.

Dia 2

No dia seguinte de manhã, os meus colegas de expedição continuaram a busca pelo meu telemóvel, e também não encontraram nada. Mas eu tinha acordado com uma dor de cabeça tão forte e com tanta indisposição, que já nem queria saber do assunto, só queria voltar a sentir energia. No meio de tantas coisas que podiam correr mal nesta viagem, perder o telemóvel nem era das piores.

Felizmente, passado uma hora, voltei a sentir-me bem e, quando parámos para observar o vulcão Ollague, pude apreciar toda a paisagem e tirar algumas fotografias.

A viagem continuou por caminhos de terra, aos solavancos, até que parámos para um piquenique no meio de montanhas com alguma vegetação. E seguimos, durante mais algumas horas dentro do carro, pelo meio do nada. Paragem aqui, paragem ali, areia por um lado, rochas pelo outro: um monte de paisagens que só via nos livros de ciências. E, no fim do dia, chegámos à Laguna Colorada, à entrada do Parque Nacional, onde passámos a noite. Mais um quarto a dividir por todos, banho pago e casas de banho sem papel. Antes de dormir, pude observar o céu mais estrelado que alguma vez vi, com direito a uma estrela cadente (só me esqueci de desejar não voltar a perder mais nada e, por isso, dois dias depois, o meu cartão multibanco ficou preso na máquina…).

Dia 3

No breu e frio das 4h30 da madrugada, acordámos para ir ver os géisers. E assim foi, vi um amanhecer inesquecível, com fumo a sair do solo, como se houvessem chaleiras gigantes enterradas debaixo dos nossos pés, e o sol a nascer por detrás de montanhas de areia.

A paragem seguinte foi numa piscina termal (onde não tomei banho para não arriscar uma constipação), rodeada por um lago de onde saía fumo - tais as diferenças de temperatura entre a água e o exterior.

Quando a viagem seguiu, já foi em direção ao Chile. Esse capítulo da viagem também merece boa atenção e, por isso, dedicarei o próximo post do blog a relatar as minhas paragens em San Pedro de Atacama e o Natal em La Serena.

P.S.: algumas das minhas fotos preferidas deste passeio não as consegui passar para o computador, por ter perdido o telemóvel. Ficam as memórias.

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