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El Buen Vivir


Já há quase duas semanas que sou moradora da comunidade de San Pablito Agualongo e voluntária na Coagro. Neste tempo, já me pude aperceber de bastantes diferenças na forma de viver e se organizar, em comparação com o estilo ocidental a que me habituei. Foi então que outros voluntários comentaram comigo sobre um aspeto particular da cultura Equatoriana que, de tão relevante, foi mesmo incluído na constituição de 2008 – o Buen Vivir ou Sumak Kawsay (em quíchua). Pesquisei sobre o assunto, e isso explicou muitas das coisas que vejo e vivo aqui.

O Buen Vivir ou Sumak Kawsay é um ideal de convivência, um conceito de qualidade de vida que partiu das comunidades indígenas e pretende ser uma alternativa aos conceitos ocidentais, diga-se capitalistas, de desenvolvimento e crescimento que pressupõem, entre outros, a exploração de recursos, tanto quanto necessário, para aumentar o acesso do Homem aos bens que deseja, partindo do princípio que um maior acesso a bens (materiais ou não), aumenta o seu nível de bem-estar. O Buen Vivir, por outro lado, significa não usar mais que o necessário para viver, dando o tempo e o espaço necessários à natureza, à sociedade e ao indivíduo para se renovarem e regenerarem. Assim, segundo este conceito, os humanos devem integrar-se nestes processos de renovação, em detrimento do desperdício, da sobre-exploração ou até mesmo da acumulação de riqueza, baseando-se apenas na solidariedade e reciprocidade local. Noutra perspetiva, significa adaptar-se ao meio, aproveitando e aplicando ensinamentos dos antepassados, num ambiente de interculturalismo (referência, neste caso, à inclusão das comunidades indígenas) e respeito mútuo. Ao incluir na sua constituição o conceito de Buen Vivir, o Equador assume, enquanto país, o objetivo de viver respeitando este estilo de vida.

No dia-a-dia, vejo que o Buen Vivir está presente sobretudo no que diz respeito a perpetuar os ensinamentos dos antepassados e as tradições indígenas, assim como respeitar os ciclos da natureza. Por exemplo, as atividades agrícolas são, na sua maioria, de forma bastante simples, sem recurso a máquinas, e à escala de cada família, e na comunidade, a maior parte das famílias parece se restringir apenas ao necessário para viver, com muito poucos luxos. A solidariedade e reciprocidade local também são bastante sentidas.

É interessante descobrir que o Equador adotou como objetivo a nível nacional, um conceito que, deliberadamente, se opõe a princípios com os quais cresci - afinal, aprendi apenas os conceitos ocidentais de crescimento e desenvolvimento. No entanto, tenho agora uma excelente oportunidade para compreender de perto este estilo de vida alternativo e, quem sabe, adaptá-lo e, em certa medida, adotá-lo no meu futuro.

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